domingo, 19 de outubro de 2008

Além do Desporto

"Erotismo"

Li recentemente um conjunto de contos eróticos medievais, mais precisamente do séc. XIV, por parte de um autor italiano de nome Giovanni Boccaccio. Esses contos, denominados simplesmente de "Histórias Eróticas", fazem parte de uma obra maior, do mesmo autor, chamada "Decâmeron". Foi interessantíssimo, para não dizer hilariante, notar as semelhanças que estes contos possuem com o erotismo contemporâneo (ou, para ser mais correcto, na semelhança que o erotismo contemporâneo possui com o erotismo daquela altura). Não quero denegrir a imagem nem o conteúdo dos excertos quando me refiro a alguns deles como hilariantes. Pelo contrário, são bastante interessantes e recomendo-os vivamente, por se tratar, neste caso, de uma leitura algo leve e relativamente rápida (lêem-se os contos todos em poucas horas). Seria notável ver uma adaptação de alguns desses contos para a indústria audiovisual. Como seria, por exemplo, retratado o último conto desta compilação, pertinentemente chamado d' "O Eremita e a Adolescente"? Como o nome indica, este conto fala de uma adolescente devota que resolve isolar-se de forma a dedicar-se ao Senhor. Como tal, procurou o conselho de alguns velhos mais sábios, também eles eremitas, que lhe deram sempre indicações para outros sábios mais experientes que os próprios. Tantas indicações levaram a jovem moça (de 14 anos), descrita como sendo uma beldade, a pedir conselhos a um - relativamente - jovem eremita, chamado Rústico. Ora, estando isolado do mundo, o que significa que não via uma mulher há sabe-se lá quanto tempo, Rústico resolve aproveitar-se da ingenuidade da adolescente de forma a satisfazer-se. Tudo isto para dizer que as indicações que este dá à jovem implicam "meter o Diabo no Inferno". Não entrarei em detalhes, se coloquei aspas nesta expressão por alguma razão foi. Sendo um conto erótico, tirem vocês mesmos as vossas conclusões. Esta e outras metáforas, como "ter o Rouxinol na mão", são referidas ao longo dos contos, cada qual com a sua. Actualmente a imagem que poderíamos ter seria, por exemplo, a de um canalizador que resolveu ir limpar os canos a uma senhora bem parecida. E o resto fica ao critério do leitor, pois erotismo não significa pornografia. A única conclusão que posso tirar é que, de há 700 anos para cá, a evolução, no que a fantasias eróticas diz respeito, parece não ter sido muita. As semelhanças são, aliás, bastante óbvias, tanto nos contextos como nas situações. Recomenda-se esta viagem ao passado, sem quaisquer complexos.

LL

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